quarta-feira, 29 de março de 2017

Ver048



“Como seria com qualquer idioma novo, meu primeiro contato com a língua dos anjos causou estranheza. Os símbolos, que muitas vezes me pareciam uma variação pomposa de letras gregas, não significavam exatamente letras, mas conceitos. Algumas horas depois, entretanto, eu já conseguia assimilar o conceito geral de frases inteiras e até mesmo a pronunciar algumas palavras.

Quando o sol covarde começava a se esconder, eu e Máira já tínhamos lido toda a sessão que tratava sobre Lúcifer e ponderávamos sobre o tínhamos descoberto ali.

- Então, o grande plano dele é engravidar alguém? Esperava mais do grandão. - disse ela desapontada.
- Não foi isso que eu entendi. Olha aqui. - corrigi apontando o parágrafo que embaçava meu argumento - Me parece que Lúcifer, sendo um arcanjo, não pode interferir aqui neste plano de forma física, salvo em duas ocasiões. A primeira é sob as ordens daquele que o livro chama de 'O Criador’…
- Coisa que não vai acontecer tão cedo. - Maíra complementou.
- Também acho isso difícil. - concordei - Nos resta a segunda, então. Se algum mortal de muita fé concentrar toda a sua força de vontade e desejar uma ação específica, os arcanjos poderiam agir e até mesmo realizar este desejo. “O Fiel”, é como o livro chama este mortal. Seria ele quem poderia fazer essa ponte. Certo? - esta última palavra eu disse por educação, pois não tinha dúvida alguma de que eu estava correta.
- Essa parte faz sentido. Mas e o filho então? - Máira apontava para uma figura um tanto perturbadora de uma mulher grávida com expressão de horror. Era possível ver o interior de sua barriga, e lá havia um pequeno diabrete se alimentando de suas entranhas.  
- Eu também não achei que o livro foi claro quanto a isso. - respondi - E nem acho que seja importante agora. Estou mais intrigada em descobrir qual é a ligação entre Lucas e Lúcifer.
- Olha só quem acredita nos boatos agora…- Máira provocou.
- Não é exatamente isso. É que eu lembrei de uma coisa…- como sempre, era difícil para mim revirar os armários antigos das minhas memórias. Mas eu confiava em Máira e me abri -  Em Paris, logo depois que fui transformada, e eu estava debruçada sobre o corpo de Carlos. Acho que foi quase por instinto, sabe? A sede faz você deixar de pensar direito. Bom - segui, um tanto constrangida -  a verdade é que eu não ia parar enquanto não secasse ele, mas Lucas interveio e me levou para casa quando achou que eu já estava “controlável”. As lembranças desta noite são um pouco nubladas, mas ainda me lembro bem de alguns pontos específicos.

Senti em minha língua outra vez o gosto dele. Do sangue dele. Uma das piores coisas da imortalidade é ter que conviver com suas lembranças ruins eternamente. Você pode esconde-las, pode ignora-las, pode até mesmo nega-las. Mas elas vão estar ali, com você. Para sempre.

Respirei, e continuei.

- Lucas me levou ao apartamento que ele tinha no Centro de Paris. Eu lembro que tremia, de medo e de choque. Pela primeira vez, sentia odores que não conhecia, ouvia sons que nunca haviam tocado meus ouvidos e via cores que não tem nome. Suja e molhada. Ele me sentou no sofá, e me perguntou:

- Você é a garota LeBion, estou certo?

Lembro que não lhe respondi. Apesar de falar de modo paciente e compreensivo, Lucas era sedutor demais. Eu nunca tinha visto nada como ele antes. Seu rosto, sua voz, sua pele tão pálida quanto a minha. Eu, que sempre tive uma personalidade dominadora, me vi submissa a ele. Era como se ele fosse o dono meus olhos e minha atenção mas, com esforço, ainda mantive minha voz para mim.

Ele continuou a falar.

- Filha de Jean-Luc LeBion e Dona Isabella de Albuquerque, se fiz minha pesquisa corretamente. Tenho observado a sua família há alguns anos. Desde antes de você nascer, Carolina. Seus pais tem o odioso hábito de frequentar a igreja e acreditar em qualquer coisa que lhes disserem. Serei sincero com você, eu sempre odiei esta alienação passiva. No entanto, preciso congratular seus pais pelo trabalho que fizeram com você. - Lucas me fitava satisfeito.

Ao ouvir a menção do nome de meus pais, a quem eu não via havia alguns anos, inevitavelmente as lágrimas brotaram em meus olhos. Minha respiração parou quando o vi caminhando lentamente em minha direção. Olhei para baixo, tímida, e ele levantou meu queixo suavemente. Me dominando com os olhos de gelo.

- Não tenha medo, minha criança. Eu tenho intenção alguma de lhe causar mal. Você agora é minha, e eu prezo pelo que é meu. Meu nome é Lucas Malta, e eu acabo de te dar um presente. - como quem confessa um pecado, ele me disse - A dádiva da noite.

Senti sua língua passando confortavelmente pelas feridas, ainda abertas, que ele havia causado em meu pescoço. Tive calafrios de prazer incabíveis na ocasião. Entretanto, reais.

Lucas me despiu.

Em meu êxtase, eu ainda era castigada pela sede. Mas haviam tantas outras sensações novas pungindo em mim que eu não conseguia me sentir afligida exatamente por ela. Ele estava sobre mim no sofá de veludo, nossas silhuetas dançando à luz da lareira acompanhavam nossos movimentos de um jeito fantasmagórico e belo.

Saciado, Lucas pôs o polegar em minha boca, e disse relevando sem pudor os dentes que, agora, eu também tinha:

- Carolina, minha pequena corruptora de homens bons. Seria você a fiel que eu tanto procurei?

E se levantou subitamente. Meus olhos, ainda se acostumando à minha nova condição, não conseguiram entender bem como ele apareceu vestido e alinhado tão rápido. Passado o momento, a sobriedade novamente tomou conta de mim. Não compreendia bem meus sentimentos para com aquele homem, que acabara de sair pela porta.

Pouco a pouco, aquele apartamento passou a falar comigo. A me contar coisas que eu não queria ouvir, eu juro que podia ver as paredes me oprimindo e me senti culpada e imunda pelo que havia feito. Olhei para mim mesma e me vi nua e suja de sangue. Sangue do homem que achava que ia me fazer feliz.

Eu chorei novamente, dessa vez não lutei contra as lágrimas. Fui até o banheiro, precisava me ver, precisava lembrar quem eu realmente era, pois sentia como se não me conhecesse mais. Havia um espelho, mas ao me por de frente à ele, não havia nada o que refletir.

Eu não era nada. Não era ninguém. Gritei em desespero por não saber mais o que eu era e odiando meu destino. Mas mais do que tudo odiando, eu nunca odiei alguém como odiei Lucas naquele dia. E por isso as últimas palavras que ele disse antes de sua saída nunca me saíram da cabeça. O que era esta “fiel” a quem ele procurava? Porque foi exatamente esta a palavra que ele usou. Fiel.

Houve um silêncio incômodo quando parei de falar. Acredito que Máira estava esperando que eu continuasse, e quando percebeu que eu não o faria, disse:

- Lucas gosta das mulheres do seu clã fiéis a ele, isso é muito estranho?
- Não. E por cem anos achei que ele quis dizer exatamente isso naquela primeira noite que eu tive como vampira mas, lendo este livro, uma luz se acendeu em mim. Com o tempo eu me conformei, achava que ele tinha me escolhido aleatoriamente, apenas para satisfazer seus desejos. Porque, bom, nós fazemos isso com os mortais. Mas, se ele realmente tiver este plano de forjar uma aliança com Lucifer e precisar de um intermediário aqui, talvez eu não tivesse sido um acaso afinal de contas. Não, Máira…eu estou começando a suspeitar que Lucas me usou como um peão de tabuleiro. - eu mesma me assustei ao notar o tom da minha voz. A ira escorria de minha boca como se fosse sangue.
- Calma, você não acha que ele te transformou pensando que você fosse essa figura do livro que tem o poder de fazer anjos descerem para este plano e etcetera, certo? Esse livro é bem obscuro em alguns pontos, concordo, mas ele foi claro ao dizer que “o fiel”  que vai trazer Samael para este plano deve ser uma alma casta que foi deturpada pelas trevas. E, sem ofensas, mas você tem cara de que queimaria ao entrar em uma igreja mesmo quando era mortal.
- Exatamente. Eu sempre odiei este hábito dos meus pais. Cheguei fugir da minha primeira comunhão, em plena cerimônia. Mas talvez Lucas não soubesse disso. Minha família era muito devota, mas eu nunca fui. Se Lucas roubou a minha vida para que eu fosse um joguete nas suas mãos, não importa se ele tiver Lúcifer ao seu lado ou não, eu vou matar aquele infeliz.

Um cuco escondido atrás de uma lamparina antiga nos avisou que já eram sete horas - Acredito que seja a hora de finalmente pormos tudo isso em pratos limpos e resolver este mistério. Você vem comigo?
- Acho que fico mais confortável aqui, fora de qualquer risco a minha existência. Prefiro ficar aqui e esperar as novidades.
- Medrosa. - eu disse me levantando, pegando minha bolsa e indo até a porta - É melhor chamar a polícia. Daqui a pouco seus vizinhos vão começar a feder.

Me despedi do porteiro, que desta vez estava acordado, e avisei que a saída de emergência - que eu mesma tinha aberto - estava destrancada e que seria perigoso se passasse a noite toda assim. Busquei na minha bolsa o papel onde Beatriz havia escrito o endereço novo enquanto caminhava pela orla da cidade. Notei que parecia ter passado muito tempo desde que chegara ali com Máira desacordada nos meus ombros, era difícil pensar que tudo aquilo havia acontecido a menos de vinte e quatro horas.

Por estar queimando em emoções, demorei a encontrar o pedaço de papel. Quando finalmente li o endereço na cuidadosa caligrafia de Beatriz. Sorri, e lembrei de um distinto escritor e diplomata que conheci em um 'rendez-vous' algumas décadas atrás em Paris. O Sr Alves estava um pouco deslocado por ter chegado à cidade havia pouco tempo, mas logo ficou à vontade quando nos conheceu por sermos os únicos que também falávamos português na reunião. Apesar de seu francês ser impecável, ele justificou sua escolha de ficar conosco dizendo que nada era mais confortável do que ouvir a língua materna novamente, só que tanto Lucas quanto eu sabíamos que, na realidade, ele havia se encantado com a minha presença. Lucas se incomoda bastante com a aproximação do Sr. Alves, apesar de eu achar seus esforços para me agradar bastante educados e polidos. Eu tinha certeza de que ele o mataria ao final da noite, e genuinamente não me importaria com isso, não fosse pela cena armada por Manoela, que ainda estava conosco na época. Precisamos sair prematuramente da festa. Nunca mais voltamos a ver o Sr. Alves com vida, ao saber da notícia de seu falecimento, Lucas prometeu que ainda pisaria sobre o seu túmulo.

E agora, de certa forma ele cumpria sua promessa, nossa nova casa se situava na Rua João Luis Alves.

Perdida em meu próprio rancor, eu caminhei do Leme até o bairro da Urca sem muita demora. Era uma típica noite de outono carioca, agradável e amena. Reduzi a velocidade quando cheguei à Urca afim de conhecer a vizinhança, afinal, havia estado pouquíssimas vezes naquela parte da cidade. Pessoas de alta classe se reuniam no que parecia ser um inusitado ponto de encontro do bairro: uma mureta que tinha vista para a bela enseada de Botafogo. Logo encontrei a rua que procurava, e pude ver que Lucas não a escolhera apenas por uma pequena vingança pessoal. Haviam muitas casas luxuosas naquela rua, com o padrão europeu que ele tanto gostava.

Lembrei de seu sorriso triunfante e senti desprezo. Se ele queria tanto o Inferno, eu lhe daria com prazer.

Havia um portão gradeado entre dois muros de hera bem conservada logo na entrada de nossa casa. Passei por ele e caminhei pelo pequeno jardim, que tinha flores desabrochadas apesar de já termos passado, há muito, da primavera. À minha frente se erguia a acinzentada construção clássica que mais parecia uma miniatura dos antigos palacetes vitorianos. Meu novo lar.

Subi os dois pequenos degraus que compunham a soleira da entrada e toquei nas portas de madeira lisa e maciça que se abriram como se me esperassem. Dentro o ambiente era bastante aconchegante, parecia menor que a nossa antiga morada no Catete e mais quente.

O primeiro cômodo era uma espécie de sala de estar decorada com poucos móveis. Basicamente havia uma mesa de centro retangular, ampla e baixa, no meio do aposento. Ao redor da mesa, de modo planejado, foram dispostos sofás que pareciam bastante aconchegantes. Eram sofás básicos, sem qualquer adorno ou enfeite. Dispostos em pares e idênticos em todos os outros aspectos, diferiam apenas em suas cores, sendo pretos os que tocavam a parede aos fundos e vermelhos os que ficavam nas laterais da mesa de centro. Às costas destes últimos se erguiam dois pequenos lances de escada, um de cada extremidade do cômodo, que se encontravam num mezanino moderno.

E lá, debruçado sobre as grades cor de chumbo do mezanino, Lucas me observava. Camisa social dobrada até os cotovelos e aberta nos primeiros botões, preta como seus cabelos. Trazia uma garrafa de cristal cheia até a metade com um líquido escarlate e uma taça do mesmo material e com o mesmo conteúdo na outra:

- E então?
- Estou surpresa, - e realmente estava, mas com a minha reação. Imaginei que toda aquela ira dentro de mim me fizessem pular sobre sem qualquer aviso, mas me mantive calma e resolvi que iria jogar um pequeno jogo com ele. Enquanto subia a escada colada à parede esquerda para me juntar a ele - Conhecendo você esperava uma decoração muito mais, como posso dizer... barroca. Olha, eu sabia que viveria para sempre, mas não achei que fosse ver o dia em que Lucas Malta decoraria uma casa sem um papel de parede ornado em flores-de-lis ou veludo nas mobílias. Você até abriu mão de uma lareira na sala de estar. - deixei que ele me desse um beijo - Parece que os tempos estão mudando, não é mesmo?

E lhe sorri, maliciosa.

- Eu tive ajuda na decoração, devo admitir. - Lucas se voltou para a parte interna da casa, que se revelou um corredor largo e claro, dando as costas para o mezanino e examinou com o olhar de um artista que acabou de concluir um trabalho. - Não é realmente o tom que eu escolheria para a casa se tivesse feito sozinho, entretanto, acredito que tenha sido melhor assim. Estamos quase na virada da década, não seria prudente se continuássemos com aquele antigo mobiliário. - ele deixou seus olhos mais uma vez pousarem pelo corredor vazio antes de beber o último gole de sangue e voltar a olhar para mim - Mas a minha pergunta não se referia à casa. Você passou um dia inteiro fora, se eu não a conhecesse estar preocupado. No entanto, estou somente curioso. Como você conseguiu salvar a Aaba?

Tomei a taça de sua mão e estendi para que ele a enchesse com o resto de sangue que havia na garrafa de cristal percebi, então, os detalhes bem trabalhados em seu material. O velho Lucas estava ali, apesar dos filtros.

- E como você sabe que eu a salvei? Pensei ter ouvido você dizer que ela estava condenada, que era impossível.
- Exato. Mas nós vivemos juntos tempo o bastante para que eu possa notar sua predisposição em cruzar o limiar da possibilidade. - ele pôs a mão no meu queixo e em fitou com uma felicidade perturbadora - Se não quiser falar, eu respeitarei. Não é como se eu me importasse com a sua amiga, exatamente. Ah! E já que estamos falando de aliados, me acompanhe. Quero que você conheça alguém.

Lucas levemente tocou a minha cintura e, relutante, deixei-me conduzir pelo largo corredor que se abria a nossa frente. Primeiro, passamos pela porta fechada do que era o quarto de Beatriz, e ele me disse que ela estava fora caçando. Havia sido uma noite agitada, aparentemente. Em seguida, havia o que que parecia ser uma outra sala de estar, apesar de haver uma cama discreta, mas bem arrumada em seu interior. A porta estava aberta e eu pude ver dois corpos desfalecidos no fino tapete preto que forrava o chão. Um homem e uma mulher. Ela, que morreu de olhos abertos, tinha êxtase e satisfação em seu olhar vítreo. A mulher morta me olhou e eu não pude deixar de me ver em seus olhos. Talvez eu fosse tão descartável quanto ela, talvez meus olhos tivessem se pintado do mesmo vazio antes que ele resolvesse me trazer para si. Meu interior se revolvia em ódio daquele homem e eu sabia que não aguentaria aquele disfarce por muito mais tempo. Não havia sinal de sangue em seus corpos, bem como no tapete, e então, eu soube de onde tinha vindo o sangue que havia enchido a garrafa que provei.

- Perdoe-me pelo desleixo, - disse Lucas fechando a porta - eu tinha acabado entreter nossos visitantes no momento em que você chegou. Ainda não tive tempo de dar fim aos corpos. Este, inclusive, é o nosso quarto de hóspedes, - e me deu um daqueles sorrisos tortos e perturbadores antes de falar em voz baixa - você sabe para que ele serve. Vamos seguir?

Havia uma larga porta dupla bem no meio do corredor, as portas eram brancas e simples. Fora sua altura, que subia até tocar o pé-direito da casa, poderia-se dizer que era simples como um par de portas que acabou de sair de uma marcenaria rudimentar. Mesmo sua maçaneta era de um singelo metal liso e bronzeado.

Caminhamos até lá.

Havia algo emanando por detrás daquelas portas. Algo incômodo, que começou como uma leve impressão mas, a cada segundo, aumentava. Ia se mesclando a todo o asco e repulsa que agora eu tinha por Lucas. Até que tomou conta de mim inteiramente, a cada passo que eu dava, podia perceber meus sentidos se pondo em ataque, eu estava alerta como fico quando passo dias sem beber, o que era estranho, pois eu havia acabado de tomar uma taça de sangue ainda fresco.

E mais, havia algo de familiar naquela sensação. Mas eu não conseguia exatamente lembrar onde havia experienciado aquilo anteriormente, a coisa realmente me desconcentrava.

- E este, doce Carolina, - Lucas parou em frente às portas simples e intrigantes - é o quarto do NOSSO hóspede. Sei que você tem muitas perguntas a serem respondidas, e sei o quanto fui negligente com a sua criação. Você precisou aprender muito sozinha. Mas meu silêncio tem uma justificativa, eu precisava que você não soubesse, pois achei que fosse caber a você a parte mais importante do meu plano - enquanto ele falava, eu revolvia meus arquivos a tentar lembrar, lembrar de onde eu conhecia aquele sentimento tua incômodo. Então veio um nome na minha mente. Só podia ser ela!

- Tive o prazer de ver você se tornar uma de nós e uma das melhores. E hoje, você vai saber que todo o seu sofrimento foi por um bem maior. Para o nosso bem maior.
- Catharina! - eu não consegui evitar dizer.
- Perdão? - Lucas disse sem entender.
- Todas as vezes que eu esbarrei com Catharina através dos anos, foi esse mesmo sentimento. Essa mesma sensação incômoda e inquietante. - meu tom de voz era alto, e eu percebi que já não estava mais sustentando a imagem de doce e tenra parceira. - Eu descobri seu plano, seu merda.

Um arrastar de agulha rápido veio de dentro do cômodo ainda fechado e sem demora uma música começou a tocar. Pesada e dramática demais. “Amadeus,” - pensei - “nunca pensei que conheceria Lúcifer ouvindo a merda de Wolfgang Amadeus Mozart.”

- Eu sei qual é o seu plano. - repeti - Você me usou. Você tirou tudo de mim para que eu fosse “a parte mais importante do seu plano”. Eu teria sido feliz, Lucas. Eu teria tido uma vida! E você me negou isso por puro egoísmo! Máira me contou que o plano inferior já cochicha sobre a sua intenção de se aliar a Lúcifer e tomar o Inferno. Eu sei que tem um anjo atrás dessas portas, e não qualquer um. O príncipe do Inferno está aqui e….

As portas se abriram com um clique de fechadura bastante audível. E de lá ouvi pela primeira vez sua voz aguda como a de um tenor.

- Acredito que esteja me confundindo com o meu irmão, senhorita LeBion. - ele tomou minha mão nas sua e se inclinou beijando-a - Eu sou Rafael, encantado."

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