“Esperei que ele se repetisse. Demorou até eu quase
desistir, mas lá estava novamente o barulho. Como se alguém buscasse ar no
espaço, um esgarçar de cordas vocais grave que, desta vez, culminou um acesso
de tosse. Ainda molhada corri até a sala tentando, nos poucos metros que tinha,
conter minha esperança.
Máira, agora já totalmente em sua forma original, se
debruçava sobre os joelhos quando eu adentrei na sala. As asas dracônicas
riscavam a parede a cada tosse que dada. Ela expeliu algo, mas dessa vez não
era o mesmo líquido verde a pastoso de antes, mas um fluido translúcido e com
algumas bolhas. Deu pela minha presença ao levantar a cabeça para inspirar. Os
olhos, agora inundados de um verde brilhante focaram em mim e eu juro que eles
me sorriram antes dela dizer com a voz fraca:
- Eu agradeço tudo que você fez por mim, de verdade.
Mas estou fraca demais pra retribuir desse jeito, você pode botar umas roupas,
por favor.
Foi quando eu percebi que ainda estava nua e, sem me
importar minimamente com isso, fui até ela e a abracei à despeito dos seus
lamentos de dor. Contei a ela tudo que tinha acontecido desde a nossa batalha
na Vogue e respondi porque não estávamos no seu apartamento. Ela fez menção de
levantar e atravessar o corredor, mas sentiu vertigens antes mesmo de chegar à
porta, por isso a ajudei a retornar ao sofá antes de ir até o quarto pegar
roupas limpas para nós duas. Eliane tinha deixado alguns vestidos lá no armário
e tínhamos as medidas parecidas, apesar do gosto diametralmente oposto. Por
falta de opções, saí do quarto com um vestido verde escuro com uma estampa de
pequenos círculos multicoloridos. Para Máira que era maior que eu, uma camisa
do dono da casa serviu.
- Meu vizinho tinha cara de quem tomava cappuccino? -
perguntou-me enquanto se vestia, sua segunda pele gradualmente ia cobrindo o
corpo infernal - Eu realmente poderia tomar uma xícara ou duas de algo quente
agora.
- Bom, - eu disse procurando nos armários da cozinha -
ele tinha um pó de café barato aqui, acho que é o máximo que posso fazer por
você agora.
- Se eu não morri com todo aquele sangue, não vai ser
um café seu que vai me derrubar.
Primeiro, a alegria de vê-la viva e, na medida do
possível, bem, me embriagou. Mas a cada frase dita, a cada gesto dado eu via
algo de diferente em Máira. Ela ainda falava do mesmo jeito desbocado e
espirituoso, mas era como se estivesse ponderando alguma coisa lá no fundo. Talvez
alguém mais distraído não percebesse, porque ela realmente estava tentando
parecer à vontade, mas, como eu disse, eu sempre fui boa em ler os
outros.
Saí da cozinha com duas xícaras de café preto. Duas
por força do hábito, mas dessa vez não toquei na minha. Máira tomou a dela com
bastante açúcar e depois tomou a segunda, pura. Já estava com aspecto humano a
essa altura, tinha escolhido cabelo castanho escuro e levemente ondulado até
altura dos ombros dessa vez. E olhos azuis-piscina, que me observavam por cima
da xícara.
- O que foi? - ela disse quando terminou.
- Sou eu que pergunto. Está tudo bem? Quer dizer, você
parece estar bem, apesar de tudo. Mas eu acho que você ainda está segurando
alguma coisa aí dentro. Você se recuperou mesmo? Se estiver precisando de
alguma coisa, por favor, avise.
Máira desistiu de sua máscara-está-tudo-bem-agora
e penetrou em mim com seus novos olhos por alguns segundos prendendo a
respiração, então disse preocupada:
- Não o tipo de assunto para se conversar na casa de
estranhos. - e se levantou com cuidado - Vamos, acho que já consigo ir até o
meu apartamento.
Fiz menção de ajuda-la a chegar em casa, mas ela não
precisou. Já caminhava bem e quase não havia mais sinais de qualquer fraqueza
nela. Não, não era algo sobre sequelas da batalha que ela estava escondendo.
Peguei as xícaras e a cafeteira e levei para o apartamento de Máira, afim de
cobrir rastros quando viessem investigar a morte do proprietário e sua
namorada. Antes mesmo que eu perguntasse, ela disse:
- Sim, você pode entrar. Deixa as xícaras lá na pia,
são um pouco cafonas, mas eu perdi a minha em algum lugar por aqui. - e apontou
pra bagunça que ainda se fazia em seu apartamento, mas que dessa vez não me
saltou tanto aos olhos. Talvez eu já tivesse acostumando e me sentindo
confortável naquele lar.
Quando voltei, sentei sobre uma pilha de livros de
frente para a mesa onde ela estava sentada em uma cadeira.
- E então? – perguntei.
- O assunto é um pouco longo.
- Tudo bem, eu não vou a lugar nenhum pelas próximas
treze ou doze horas mesmo. - e apontei para a varanda que deixava entrar a luz
do sol num ângulo ainda não muito perigoso - Inclusive, você pode fechar aquilo
pra mim?
Ela fechou as persianas que cobriam a porta da sua
varanda, e ligou um interruptor que se escondia atrás de uma mesinha de canto
que abrigava algumas garrafas vazias. Quando voltou, sentou sobre uma outra
pilha de livros ao lado da minha. Me fitou do mesmo modo apreensivo que o tinha
feito na casa de Debóhra e finalmente disse:
- Olha, nada disso é certo, tá bom? Eu não tenho
nenhuma comprovação disso que vou dizer, mas dado o histórico do seu amigo, - e
a palavra amigo veio envolta em muito sarcasmo - acho que você deveria saber.
Pode ser o começo de alguma coisa realmente grande.
Me mantive calada enquanto ela estudava por onde
começar.
- Eu quase morri dessa vez.
- Eu notei - respondi.
- Exceto que nós, demônios, não morremos. Toda vez que
nossa forma neste plano deixa de funcionar por algum motivo, somos novamente
levados ao Inferno. Uma projeção nossa é obrigada a caminhar em direção ao
portal mais próximo, e de lá somos levados até o plano inferior.
- Nós ainda temos alma? - era uma oportunidade
perfeita para tirar a dúvida que me intrigava há décadas.
- Porra, claro que sim! Na verdade, é sobre
nossas almas que tudo isso se trata. Desde A Queda, eles lutam pelas nossas
almas. As nossas e as dos mortais. Estrela da Manhã e o que eles chamam de Deus
estão basicamente jogando um jogo de damas eterno pra ver quem come mais almas
pro seu lado.
- Eu nunca gostei desse pensamento. - me peguei
dizendo - Acho simplório demais, dicotômico demais e não me parece certo. Minha
família era extremamente religiosa e dizia que eu precisava concordar com o que
eles diziam para, entre aspas, ser salva. Nunca acreditei que seguir um monte
de regras e dogmas me salvariam ou condenariam de nada, e muito menos que outra
pessoa possa dizer para onde minha alma iria depois que eu morresse. Na minha
visão somos nós mesmos que nos salvamos, sempre que somos verdadeiros e fiéis
àquilo que acreditamos.
- Nossa, as reuniões de família deviam ser realmente
animadas na sua casa. Eu concordo com você. - depois da brincadeira, ela voltou
a ter o tom preocupado na fala - Então, essa coisa…nossa alma, ela é guiada
pelo portal até chegar aos portais do Inferno. “Vós que aqui adentrais perdei
toda a esperança”, aquilo mesmo que você ouviu falar. Uma vez cruzados os
portões, não tem volta. Precisamos procurar outro portal para subir e, como eu te
falei, eles estão cada vez mais escassos. Mas, nossa forma física fica aqui
neste plano. É só quando realmente entramos no Inferno que nosso corpo aqui
começa a desaparecer. Imagino que eu deva ter dado sinais de algo parecido, não
foi?
- Sua segunda pele começou a descolar de você e muitas
veias apareceram no seu corpo original. - respondi.
- Exatamente, isso era porque eu estava bem perto.
Quase na borda do meu portal, na verdade. - seus olhos estavam focados na
parede atrás de mim, mas refletiam a aversão que ela tinha àquele lugar - Eu já
podia ver os grandes portões, podia ouvir o Aqueronte correndo logo atrás
deles. Seu barqueiro asqueroso deveria estar babando para ter novas almas para
atravessar. Eu sabia que minha mãe, ou pior, alguma das minhas irmãs enviadas
por ela estariam me esperando com o par de moedas necessário para a travessia e
que, depois, minha vida seria outro sem-número de anos vagando por cada um dos
nove círculos, ouvindo lamentos e gritos de agonia, até conseguir achar alguma
saída de volta para cá.
Máira se calou por um tempo depois disso, o que me fez
pensar em quantas vezes ela já havia passado por aquilo. Depois me surpreendeu
com um sorriso, um sorriso amplo e aliviado. Seu sorriso era mais para ela
mesma do que para mim.
- Mas aí você me salvou bem a tempo. - o peso que ela
trazia na voz parecia ter dado lugar à uma animação contagiante, apesar da
curiosidade permanecer em mim, eu gostava mais dessa Máira despreocupada. Peso
nunca combinou com ela - Eu lembro de estar andando em passos lentos pra em
direção ao portão enquanto outros passavam por mim, os que já tinham quem os
recebesse para fazer a travessia. Vi o barqueiro fazer três viagens enquanto os
outros que chegaram comigo já tinham ido quase todos. O único som eram os
latidos que o Cão que guarda os portões dava esporadicamente, eles têm o
barulho de trovões. Cheguei a nutrir uma leve esperança de que teriam me
esquecido, que nem mamãe nem nenhuma das minhas irmãs viesse. Eu sempre acabo
nutrindo essa esperança. Mas logo vi alguém vindo. – ela fez um suspense
proposital antes de continuar - Você quer dar um palpite de quem minha amada
mãe mandou para me buscar?
- Não, ela não fez isso! - e percebi que também estava
me divertindo com aquela conversa.
- Sim, ela fez. Triskele tem um jeito muito peculiar
de educar suas filhas, sabe? A demora estava explicada quando eu vi aqueles
passos desengonçados vindo em minha direção. Imaginava que Debóhra estivesse
furiosa comigo e já começando a me preparar para um embate quando ela me pegou
pelo braço e começou a arrastar para longe dos portões, a direção oposta de
onde deveríamos ir. O barqueiro protestou, mas ela fez um gesto obsceno e
mandou que ele fosse dar mais uma volta no rio.
- O que ela queria?
- Saber de você. É, eu fiquei com essa mesma cara. Ela
pareceu ter esquecido todo o acontecido em sua casa anteontem e Debóhra
realmente é do tipo que guarda mágoa dos outros, então julguei que tinha
acontecido algo importante. Cheguei a pensar que você também tinha sido
exorcizada lá na boate, mas não dei a ela o gosto de ver a minha preocupação.
Ao invés disso, perguntei o que é que a “sanguessuga ruiva” tinha de tão
importante. E minha irmã me respondeu que não era você, mas sim seu
companheiro.
- Lucas? - por essa eu não esperava - O que Lucas tem
a ver com tudo o que aconteceu com Debóhra? Ele nem foi conosco à casa dela.
- Eu te contei que Lucas era famoso e infame ao mesmo
tempo lá no nosso mundinho inferior. Apesar de não saber se ele já esteve lá
alguma vez, meu palpite é que não, sua reputação o precede. Poderoso e
ambicioso ele é muito respeitado no Inferno, mas também tem muitos inimigos
velados que não esperariam para lhe passar a perna. Debóhra, que chegou lá
antes de mim, revelou-me que correm boatos lá de que Lucas está tramando alguma
coisa grande. E perigosa. Você está sabendo de alguma coisa?
Pensei um pouco antes de responder:
- Ele tem insistido que tem algo para contar para mim
e para Beatriz já faz algum tempo. Mas não acho que seja algo dessa
magnitude, quer dizer, ele sempre gosta de atenção quando vai fazer alguma
coisa para o nosso clã. “Vamos nos mudar”, Lucas quer um grande anúncio. “É
preciso passar o inverno em Amsterdã”, reserva uma mesa no melhor restaurante
de Paris só para contar isso. Ele tem essa mania de grandeza mesmo, por isso
não acho que seu plano seja tomar o Inferno de Lúcifer ou algo assim.
- Mas é. Ou pelo menos é isso que alguns dizem.
Debóhra não conseguiu me dizer exatamente tudo que ela ouviu, não deu tempo. No
meio da nossa conversa o portal me sugou de volta para cá. Você precisava ver a
cara dela. Mas ela teve tempo de me contar que dizem por lá versões diferentes
sobre o mesmo fato: Lucas Malta tem um plano. “Malta está formando um exército
para invadir o Inferno”, alguns dizem. “Malta descobriu a cura para voltar a
ser mortal.”, é o palpite de outros. Ou ainda, “Malta teria o Livro dos
Espíritos em sua posse, e o usaria para saber o ponto fraco de todo e qualquer
possível oponente.”. Mas a teoria mais aceita, segundo minha irmã, que seu
namoradinho estaria fazendo negócios com um Arcanjo.
- Ele nunca foi meu namorado. – disse prontamente -
Acho que as coisas estão desanimadas lá pelo Inferno, não é? Para ficaram
conjecturando coisas assim. Estão faltando almas perdidas para torturar? - essa
história toda realmente não fazia sentido para mim - Ou será que a sua adorável
irmã não resolveu nos pregar uma peça?
- Eu pensei sobre isso, definitivamente era algo que
ela faria, mas alguma coisa não encaixa. Tudo bem, talvez ele não esteja planejando
algo tão grande. Mas ele tem o livro. Eu vi, você viu. E, Carolina, esse livro
estava perdido há milênios! Só alguém com que pudesse acessar a triqueta
saberia onde ele encontra-lo, e somente uma casta de anjos tem esse poder. Os
primogênitos.
- E quem são esses?
- Você deveria ter ouvido a sua mamãe e prestado
atenção nos estudos de religião, menina rebelde. Esse é um outro nome para os
Arcanjos. Supostamente os mais poderosos do lado de lá. Foram os primeiros que
o “Todo Poderoso” - ela fez aspas imaginárias com os dedos ao mencionar o
título - criou. O que corrobora com o boato que Debóhra me contou: se ele tem o
livro que somente um arcanjo encontraria...
- É bastante improvável que Lucas se envolva com
anjos. De qualquer casta. Você viu como eu e a Catharina temos conflitos, mas
poderíamos ser consideradas grandes amigas se você visse o modo com o qual ele
fala deles. Definitivamente, você está dando atenção demais ao que sua irmã
falou.
Máira refletiu por um momento, suspirou fundo e
pareceu concordar comigo. Até que algum pensamento fez a dúvida retornar.
- Você provavelmente está certa. Mas tem uma coisa que
ainda me faz pensar, Debóhra não disse “potestade, “serafim”, ou algo genérico
como “anjos”. Ela foi específica, dizem que ele está tendo encontros com um
arcanjo. E eles não são muitos. Na verdade, o que me incomoda é que, se você
pensar um pouco, as possibilidades se reduzem a um suspeito só. Isso já
aconteceu uma vez, um arcanjo se rebelando, digo. E as coisas não ficaram nada
pacíficas. Durante A Queda, Samael tinha um terço dos anjos do céu lutando
ao seu lado, mas ele não começou com tantos aliados assim.
- Lúcifer era um dos arcanjos? - interrompi sua cadeia
de pensamentos.
- O mais bonito deles, segundo a minha mãe. Eu nunca
vi nenhum dos outros, mas lembro de tê-lo visto três vezes. Não costumo descer
ao Nono Círculo, mas minha mãe já me mandou dar recados lá, e posso corroborar,
o filho da puta é bonito. Em algum momento, talvez durante A Queda, ele tingiu
as asas de preto, do mesmo tom que os cabelos encaracolados que emolduram
seu rosto. O nariz e sua boca parecem ter sido esculpidos em pedra, dando
a ele um ar muito erudito e ao mesmo tempo, para sempre jovial, entende? Mas
são os olhos que te atraem. Aqueles olhos acinzentados parecem te atravessar e
ver todos os pecados que você já cometeu na vida. E te condenam. Mesmo que você
seja um demônio, se sente arrependido dos seus pecados quando ele olha pra
você. - Máira suspirava num misto de desejo e receio enquanto lembrava dele.
Confesso que eu também fiquei tocada só de imaginar tal figura. Ela continuou,
agora voltando ao seu argumento”
- Minha irmã confidenciou que mamãe está
bastante sentida com ele, por ainda não ter sido informada de nada. Ela acha
que Samael está planejando uma nova investida contra o Paraíso e está, como da
primeira vez, escolhendo os aliados mais poderosos primeiro. E Lucas Malta é -
ela pensou um pouco revirando os olhos para cima - provavelmente o infernal
mais poderoso neste plano atualmente.
Eu estava boquiaberta. Nunca tinha realmente comprado
essa ideia de que Lucas fosse tão poderoso ou influente assim, mas depois desse
argumento também fiquei um pouco curiosa. Parte de mim queria levar tudo aquilo
às claras, mal podia chegar em casa para contar tudo aquilo pra Lucas. No
entanto, outra parte se sentia insegura, se tudo aquilo fosse verdade, se
realmente Lucas tivesse sido convocado para uma segunda guerra entre planos,
levaria seu clã junto. E eu me sentia muito pequena perto à um confronto dessa
magnitude.
No meio da indecisão, uma ideia. Lembrei que ainda
estava com o livro, na minha bolsa.
- Você me disse que o Livro dos Espíritos mostra o
modus operandi e como combater qualquer demônio já catalogado, certo?
- Sim, toda e qualquer casta está lá. - Máira foi
assertiva.
- Então, deve haver algo sobre Lúcifer lá…- disse
ainda lembrando daqueles olhos cinza-chumbo que pareciam me observar desde que
os concebi em minha mente.
O rosto de Máira se iluminou com aquela perspectiva.
Sem o mínimo sinal de que ela estava entre a vida e a morte pouco mais de uma
hora atrás, foi até a minha bolsa ela mesma. Voltou a sentar ao meu lado e
passou as páginas. Ver aqueles caracteres indecifráveis para mim cada vez me
incomodava mais, eu odiava que conhecimento me fosse negado. Na verdade, odiava
que qualquer coisa me fosse negada.
Então, ela parou. Uma figura desenhada na parte
superior da página, em destaque, mostrava uma versão rudimentar da figura
descrita à mim antes. E lá estavam eles. Os olhos. Tornando inúteis todas
aquelas palavras que eu não sabia ler e denunciando que sim, Lúcifer, A Estrela
da Manhã, estava no livro.
- Temos mais de doze horas até amanhecer. Que tal você
aproveitar e saciar nossa curiosidade enquanto me ensina a ler enoquiano?
Máira se levantou sem responder. Foi até a sua cozinha
e voltou com uma palmatória de madeira antiga, bem rudimentar.
- Roubei de um dos virgenzinhos alguns séculos atrás.
Era assim que os professores ensinavam os aprendizes deles na época. Sempre
quis bancar a professora mesmo, - e me olhou com malícia - e sempre quis usar
isso em alguém também. Vamos ver de quantos erros você precisa para ficar
vermelha.
Eu definitivamente adorava estar na companhia dela.
Aceitei a brincadeira.
- Então vamos lá: lição número 01…
Passamos o resto do dia e boa parte da noite lendo
sobre a volta de Lúcifer para este plano, e cada linha lida, os boatos ganhavam
mais veracidade. A cada página passada, eu esperava mais ter um ser celestial
de primeira grandeza me esperando em casa quando voltasse.
E quanto a isso eu estava certa"